domingo, 21 de novembro de 2010

A cabeça pensante da nossa MPNM

Existe em algumas pessoas um jeito de ser, que espanta aos menos avisados. Ildeu de Jesus Lopes, Braúna, é um desses tipos. Um compositor sóbrio. Em todos os aspectos desta sobridez. Seu trabalho não vem de agora e não deve terminar nunca. Vem d‘outros mares, talvez já navegados. Mas sem o forte sabor catrumano que ele dá a eles.
Conheço Braúna, nome que escolheu, de berço, desde antes de dividir seus cantos. E ele continua fazendo o mesmo escriba, seja em parcerias distanciadas ou não. Um compositor, escritor e poeta que atinge a perfeição em músicas como Rasante (voa rasante sobre a cidade...), Bandeira Boiadeira (Meu patrão carrega o ouro, eu carrego a bandeira...) ou a recente Rosa Amarela (só eu conheço no vento o cheiro do meu amor...).
Seu método submete-se ao prazer da inspiração. Isso porém não impede uma regra básica, utilizada para mostrar seu sertão como uma rival da mulher amada.
Seu escrito tem algo de invisível aos olhos num primeiro momento, mas que vai bater nos corações e mentes. Tem um quê de pesquisa, onde chapadas, cerrados, sertões e veredas se confundem.
É como o canto do galo, os corações tatuados em árvores, que a gente teima em edificar nos edifícios da cidade. Ele é assim, se envereda pelos trilhos costumeiros de um tempo que pode nascer quando um colibri se apaixona por uma gota de orvalho, ou o caboclo d’água, em banzo, fica brincando serelepe na beira do rio.
Embora esteja gravado nas grandes vozes da MPB, como Sérgio Reis, Téo Azevedo, Saulo Laranjeira, Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho, para citar apenas uns, não cultiva o mito. Assim como veio, o sucesso vai, de empréstimo, como costuma pregar aos menos avisados, ou aos que se acham escolhidos para a fama. Afinal, o panorama da música popular brasileira é muito instável. E da nossa música popular norte-mineira, mais instável ainda.
Braúna escreve para um povo morador da mata do sem fim, bem no coração das cidades. É como aquele pontinho do mapa, casa com pé de goiaba branca.
Na verdade, é um dos raros compositores pensantes deste nosso sertão. Pensante, sobretudo, pela própria cabeça e intuição musical forjada na percepção da Vila Brasília de seu coração. Cada novo trabalho seu significa um compromisso com o repertório quase tão profundo quanto a própria ligação autoral.
Seja na música, seja no poema, nas histórias e na prosa, ou mesmo no papo levado até a tarde, debaixo de qualquer pé de jabuticaba, este caipira da cidade busca encontrar o catrumano dentro de si.
Nós nunca vamos conhecer o rumo de sua galáxia, mas ele, às vezes, deixa uma dica, no final da conversa malevolente: parece que é perto de Delta, no Cruzeiro do Sul. É lá que ele escreve coisas leves. E tão bonitas.
Não ficará conhecido como o superstar do sertão. Mas sim, a cabeça pensante, depois de João Guimarães, que reinventou a escrita da nossa terra. Ou melhor, a roda!

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