domingo, 21 de novembro de 2010

Os deuses nos livram de sermos solenes

A moeda número um de Tio Patinhas não é minha. mas vou sonhando até explodir colorido. Nada no bolso ou nas mãos.
Isto é música de Caetano Veloso, e cantada na sua despedida do Brasil, naquele famoso show Barra 69, no teatro Castro Alves, fica mais déjàvu ainda. O Du Brasil pode confirmar se foi lá mesmo.
Já faz tanto tempo.
Ouvia o disco em sua casa, quando ainda morava na Rayo Kristoff, na década de 1970.
Era época de Daga, do Luiz Carlos, irmão de Gêra Brandão, que ainda não tinha paixão pela Fatel.
A gente se reunia, às vezes para falar de música, às vezes para falar da vida, às vezes só para curtição mesmo. Um cheiro de patchouli no ar.
Estávamos com 17, 18 anos, o mundo era todo a nosso favor.
Pelo menos pensávamos assim, metidos a hippie que éramos, esquecendo da revolução que acontecia do lado de fora, na rua.
Tinha também o disco do Geraldo Vandré, em que ele cantava “Pátria Amada, Idolatrada, Salve Salve”.
Havia concorrido com a música em um festival no Chile (que tinha o Allende e onde tudo “também” era permitido).
O Luiz, irmão de Gêra, já morava nesta época em Brasília. Era ele quem conseguia estes LPs por meios ilícitos (como o Barra 69 de Caê e Gil), e a gente curtia junto com o que era lícito na vida.
Nas conversas, “inteligentes” demais que éramos, discutíamos sobre psicologia, sexo, política, religião, Jorge Amado, João Rosa, as crônicas do Felipe Gabrich e por aí afora.
Transgressão positiva!
Afinal, um pouco de frivolidade é necessária, pois os deuses nos livram de sermos solenes.
Os papos varavam noites.
Às vezes, até dias.
Uma cachaça aqui, um cajá-manga de tira gosto (do pé no quintal da casa de Gêra).
Às vezes o papo ia para praças, andanças pelos caminhos que o rio Vieira (ainda não havia a avenida Sanitária, mas apenas o córrego que começava a ser poluído) nos levava.
Subíamos a serra e acampávamos em nosso local predileto: a cachoeira (que existia) onde hoje é o parque do Sapucaia.
Entre músicas tocadas no velho violão, reavaliávamos a vida ou reinventávamos a vida. Do alto dos 17, 18 anos, mesmo tendo apenas uma idéia difusa sobre ela.
O que era certo era a morte estar empoleirada em nosso ombro, espiando com seu inquietante olho de coruja. Como foram dourados aqueles nossos anos...
Mas o tempo passou, como o tempo passa. Ricardo, Gêra, seu irmão Luiz e tantos outros foram para outro andar.
Continuamos, às vezes com os mesmos pensamentos, mas com cinco décadas nas costas. Ouvimos hoje às mesmas músicas? Talvez...
Dia destes estava comentando com Brasil sobre a editora Sapo na Muda.
Idéia maluca, de se fazer uma rádio que toque coisas nossas (principalmente que não deixe perder as raízes não só norte-mineiras, mas mineiras mesmo), uma editora que lance livros de gente que está ao nosso lado, sem condições, e uma gravadora que revele não as coisas da terra, mas as coisas aqui feitas.
Existe até mesmo um primeiro CD pronto, gravação histórica do Sérgio Sampaio, aquele do “Eu quero é botar meu bloco na rua...”
Mas a coisa não é fácil não, como diz Reinaldo Corby.
Hoje levantei para escrever sobre o amor.
Ou melhor, para revisar o que escrevi sobre o amor
Sobre você, minha companheira, que como uma planta teimosa cresce cada dia, e se enrosca no meu único tronco.
Hoje era para publicar algo sobre o nosso amor, escrito há uns três, quatro meses, e colocado na pasta Pessoal&Intranferivel.
Pois vai ficar lá mais um tempo, pois ainda está imperfeito.
Pergunta João Rosa em Tutaméia: amar é querer se unir a uma pessoa futura, única, a mesma do passado?
Parece estranho o ensinamento, mas por quê não?
Venho cheirando a minha entidade favorita, mas ela não fala nada nas noites sem sono.
Só Rafael, com suas visitas aos espíritos, pode nos responder mais sobre isso.
Ensinou Rosa em Grande Sertão: Veredas - quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
Lya Luft revela que, além disso, a tranqüilidade dos sábios não é tão fácil.
Não queria ser sábio. Na verdade, nem sou.
Quero só a tranqüilidade do maluco beleza Raul Seixas que colocou num papel: o pouco-a-pouco é um porto seguro.
A bênção, dona Maria!
E obrigado por tudo.
Principalmente pela proteção.

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