domingo, 21 de novembro de 2010

O instante, o feitiço, a cangalha

Conheci Edson Cury na exposição de 1989, em Janaúba. Estava com ele um grande número de artistas. Meu olhos se voltaram para a chacrete Rita Cadillac, para quem o radialista Raul Luiz Dond, o Degas mais velho, fechava a mão todas as noites, ao ir para casa dormir. O jornalista Benjamin Oliveira Junior, o Degas mais novinho, fazia a chacota, dia seguinte, quando os três Degas se reuniam e levavam ao ar os 10 minutos mais interessantes da Rádio Gorutubana, “Os Degas”. Bem dizia Georgino Jorge de Souza Junior: é necessário perpetuar-se nos pequenos adereços.
Edson Cury, para os menos avisados, era conhecido como Bolinha. Foi à Janaúba apresentar seu programa durante uma exposição agropecuária. Naquele palquinho antigo do parque, mostrava praticamente seu programa da TV Bandeirantes, cheio de artistas. Alegre, regado a um bom uísque Chivas 12 anos, servido em doses generosas enquanto algum artista de sua “troupe” se apresentava, fez a festa daquele ano. E olha que a Bandeirantes nem pegava direito na cidade gorutubana. Mas a Rita...
Falei certa vez sobre a influência musical da televisão em minha vida. Não foi só a musical. A máquina de fazer doido, do Stanislaw Ponte Preta, nos influenciou – e influencia – em quase tudo. Como os donos da platéia, tipo Bolinha, que me fez recordar Janaúba dos anos de 1980/1990.
E Chacrinha? Foi o grande divulgador da MPB. Alegrava o auditório com suas fantasias, bordões (“Alô, alô, Terezinha” ou “Quem não se comunica, se trumbica”), farta distribuição de bananas, bacalhaus e o troféu abacaxi. Foi através dele que, no início da década de 1970, em Montes Claros, apareceu a “Buzina do Chacrota”, transmitida pela Rádio Sociedade, ZYD-7, diretamente do Ginásio Darcy Ribeiro (e até do Parque de Exposições), comandada pelo insuperável Gélson Dias. A Buzina de GeDê durou de 1970 a 1974. Foi lá que nosso conjunto (olha só, a reunião minha com Ricardo Xarope, Hudo Fidelcino, Grimaldo e Romeu) apresentou a música ‘Preta Pretinha’. Sob vaias! Muitas. Imensas. Milhares. Mas com muito suingue e alegria. Para nós.
Como a Rádio ZYD7 produzia em Montes Claros, naqueles tempos dourados. Ela, como Gedê, Félix Richard e Batista Caldeira, Daniel, Jota Lóis e Goiabão merecem, cada um, um espaço inteiro e maior em nossa vida. Como o de Geraldo Ferreira, Geraldão.
Mas falamos lá de fora. Não podemos esquecer de Flávio Cavalcanti nas tardes de domingo e seu “Um Instante, Maestro”. Como era critico o Cavalcanti. Com quebrava discos. Enquanto ele parava a orquestra, eu começava a escrever “Rádio, Discos e TV” no Diário de Montes Claros, mesma época em que “Pagão de Pai e Mãe”, o programa de estréia do prefeito montes-clarense Luiz Tadeu Leite era levado das sete as oito na “Furiosa”. Jóta Lóis, que por tantos anos animou a cidade com seus programas, mudava-se para Belo Horizonte, onde marcávamos encontro no barzinho do pai de Nelcy Lopes, no bairro Floresta, comendo a típica carne de sol montes-clarina e bebendo uma pinga do norte. Com Geraldão Ferreira a tira-colo.
E – ra-ra-raiiii – o Senor Abravanel, com o Programa Silvio Santos. Empresário bem sucedido, esbanja energia (e alegria) até hoje com suas “colegas de trabalho”. E o peso pesado Faustão. Ô loco, meu! Gostava mais dele em “Perdidos na Noite”,quando improvisava adoidado (inclusive com equipamentos), soltava farpas humorísticas e muita bobagem. Agora, infelizmente, controlado. Coloquemos no rol dessa fama ainda o espontâneo Raul Gil (de tirar o chapéu), a pancadaria de Carlos Massa, o Ratinho, que já não leva ao ar as cenas grotescas de crianças com doenças incuráveis, brigas familiares e bizarrices mais. Nem tem o Ibope de antigamente.
Em Montes Claros ainda era tempo da ZYD7, comandada pelo jornalista Elias Siufi. Tempo de transmissões ao vivo, do show de Teixeira Bastos do Cine São Luiz. Como eu tinha que fazer cara bonita chupando limão e aguentando as graçinhas da platéia, para ganhar pacotes de Café Primor (ou Diplomata). Tudo isso nos resume o instante, o feitiço, a cangalha.

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